Montpellier - Dijon


Onde: França - de Montpellier para Dijon.

Quando: julho/2014

Distância: 830 km

A equipe:

Paulo Rafael com bicicleta Railway, aro 26 e 6 marchas - com para-lamas e bagageiro.
Eliane (Bagaceira) com bicicleta dobrável Railway, aro 20 e 6 marchas - com para-lamas e bagageiro.

Resumo:

Depois de um mês de estudo de francês em Montpellier, nós saímos da cidade com nossas bicicletas, alforges e barraca de camping para esta cicloviagem.

De Montpellier - que fica no Languedoc - nós seguimos para a Provence (à Leste) e depois subimos para o Norte, seguindo pelas margens do rio Rhône até Lyon. De Lyon, nós seguimos o rio Saône por algum tempo. Sempre em direção ao Norte, passamos pela região vinícola da Bourgogne e chegamos à Dijon.

De Dijon, pegamos o trem para Paris e, depois de alguns dias lá, pegamos o avião de volta para o Brasil.

A maior parte dos dias, nós acampamos - exceto em Lyon pois o camping era bastante longe do centro da cidade.

Relato completo da cicloviagem.



Dia 1 - de Montpellier para Saint-Gilles (66 km)


Depois de alguns contratempos, saímos de Montpellier para Saint-Gilles. Paramos para almoçar em Aigues Mortes. Em Saint-Gilles, nos hospedamos no Camping La Chicanette. Percorremos 66 km com tranquilidade por ciclovias e estradas rurais de pouco tráfego. A região do Camargue (essa área verde no mapa) - plena de lagoas e alagados - tem uma grande quantidade de mosquitos, nessa época. Mas, felizmente, eles não entraram na barraca.

Na frente do studio alugado em Montpellier,
tudo pronto para partir.

Dia 2 - de Saint-Gilles para Arles (20 km)


O trajeto foi bem pequeno, pois programei chegar cedo em Arles e ter tempo para conhecer a famosa cidade onde Van Gogh e Gauguin moraram por algum tempo. Como se pode ver no mapa, atravessamos boa parte do Parque Natural do Camargue (em verde) por estradinhas rurais asfaltadas e de pouco movimento.

Foi muito bom cruzar o rio Rhône pela primeira vez, enorme e limpo, pois iremos seguir por suas margens a partir de Avignon. Almoçamos em Arles e à tarde passeamos pela cidade que é bem pequena.

Girassóis no Camargue.

Dia 3 - de Arles para Saint-Rémy-de-Provence (36 km)



Saímos de Arles para Saint Rémy de Provence, passando pela cidade de Les Baux de Provence.

Baux é um lugar impressionante no topo de uma serra rochosa chamada de Les Alpilles. Depois de muito subir e chegar à Baux, ainda subimos mais um pouco antes de começar a descer em direção à Saint Rémy. Programei um trajeto curto nesse dia pela importância e beleza da região. Baux, Les Apilles e Saint-Rémy merecem uma passagem sem pressa. E diferentemente do Camargue, enfrentamos esse relevo acidentado mostrado acima.

Na saída de Arles, ainda passamos em uma Decathlon para comprar objetos de camping e peças de bicicletas. Almoçamos em Fontvieille.

Em Saint Rémy, nos hospedamos no Camping Pegomas que fica a cerca de um km do centro. À noite, pedalamos até Saint-Rémy para passear e jantar.

Formações rochosas de Les Alpilles.

Dia 4 - de Saint-Rèmy-de-Provence para Avignon (54 km)


Saint-Rémy-de-Provence é uma cidade bonita e bem cuidada. De manhã, saímos do Camping Pegomas e fomos para a cidade tomar o café da manhã. Voltamos ao camping, arrumamos a bagagem e partimos. Seguimos por estradas rurais tranquilas. Passamos por Tarascon e Beaucaire, duas cidades que ficam na margem do Rhône e de frente uma para a outra. Almoçamos em Beaucaire e durante o almoço, conhecemos uma moça chilena, Julieta, que mora em Avignon e nos convidou para ficar no apartamento dela. Depois do almoço, seguimos para Avignon por uma rota mais tranquila, visto que a maior parte das estradas que vai para lá tem grande movimento. Chegamos à Avignon sem problemas e nos instalamos no Camping Bagatelle. É um bom camping, muito bem situado pois fica em uma ilha no meio do Rhône, de frente para a bela Avignon. Depois da montagem da barraca e do banho, saímos de bicicleta para conhecer a cidade e jantar.


Colhendo abricó.

Dia 5 e 6 - em Avignon

Avignon é grande e bela. A cidade é cercada inteiramente por uma muralha medieval totalmente conservada e que mede mais de 4 km. Avignon foi sede da igreja católica durante o século XIV, durante setenta anos, e vários papas reinaram a partir daqui. Os dois primeiros papas mandaram construir o imenso Palais des Papes. 

Além disso, a cidade está em festa pois está acontecendo o Festival de Teatro de Avignon. Por tudo isso, decidimos aumentar nossa estada que seria de dois dias para três. Além disso, gastei algumas horas para ir na Decathlon trocar a barraca de dois lugares por uma de três lugares - estava muito apertado nós dois e as bagagens. O Camping Bagatelle é muito bom, arborizado e amplo e fica em uma ilha no meio do rio Rhône.

Durante o Festival de Teatro, as ruas de Avignon ficam tomadas por grupos de várias partes do mundo. Parece um carnaval sem frevo e com muitas fantasias. Grupos musicais também se apresentam pelas esquinas e os grupos de teatro apresentam pequenos trechos de suas peças.


Ponte de Avignon

Dia 7 - de Avignon para Orange (50 km)



Saímos de Avignon seguindo, em parte, a Via Rhôna, uma rota de cicloturismo que acompanha o rio Rhône. Saímos da rota para conhecer as cidades de Chateauneuf du Pape. Caderousse e Orange. 

Chateauneuf du Pape, além de ter sido aquilo que o nome diz, o castelo novo dos papas de Avignon, é hoje uma famosa região vinícola.

Quando saímos de Avignon, seguimos por um caminho não asfaltado na margem direita do Rhône, depois passamos para a margem esquerda, mesmo tipo de caminho e passamos junto às ruínas de uma torre de observação e controle do rio - construída pelos papas de Avignon. Atravessamos algumas plantações de uvas e chegamos, em subida, à Chateauneuf du Pape. Lá, almoçamos em um pequeno restaurante chamado "A mula do Papa".

De lá, seguimos uma rota de cicloturismo asfaltada que passa entre as plantações de uvas e as vinícolas da região. Chegamos à cidade de Caderousse, que é cercada por uma muralha, entramos na cidade e percorremos o contorno da muralha. Estava acontecendo uma festa na cidade, a festa do melão. As barraquinhas de venda de comidas e de jogos tinham nomes que brincavam com os nomes do gibi de Asterix e Obelix. Todas as plaquinhas traziam nomes como Ferronierix, Le Melonix de Caderoussix e assim por diante. Tomamos uma cerveja e seguimos para Orange. 

Passamos pelo centro histórico e seguimos para o Camping Manon. Armamos a barraca, um banho de piscina, muito sol. Mas o tempo começou a mudar enquanto a gente se preparava para ir ao centro. Pedalamos para o centro histórico, jantamos e íamos passear pela cidade. Mas a chuva chegou e voltamos para o camping. E à noite caiu uma grande tempestade, raios e trovões em quantidade. Foi bom para dormir com a chuva caindo.


Perto de Chateauneuf du Pape

Dia 8 - Tempestade em Orange

Ficamos presos em Orange. Amanheceu sem chuva depois da grande tempestade. Fomos até o centro histórico, tomamos o café da manhã e visitamos o imenso e famoso Teatro Antigo de Orange. Voltamos ao camping para preparar a bagagem e sair mas a tempestade voltou. Chuva, raios, relâmpagos. Ficamos quase que o dia todo dentro da barraca, ouvindo a chuva e os trovões. Só depois das quatro da tarde é que parou de chover. Fomos ao centro, comemos, passeamos e voltamos ao camping.

Dia 9 - de Orange para Montélimar (77 km)



O trajeto de Orange para Montélimar foi muito bom, tranquilo, belo. Dia ensolarado, nada de tempestade ou chuva. Passamos por muitas estradas rurais, muitos campos de girassóis e plantações de frutas. Em vários trechos, a Via Rhôna segue por cima de antigos diques de contenção das águas do rio Rhône.


Campos de girassóis

Dia 10 - de Montélimar para Valence (62 km)



Depois do café da manhã em Montélimar, colocamos roupas para lavar em uma lavanderia automática e passeamos pela cidade. Depois de pegar a roupa, partimos para Valence, um percurso muito bonito com paisagens bem diferentes. A Via Rhôna é muito bem cuidada nesse trecho. Em Valence, ficamos em um camping a dois km do centro histórico. Armamos a barraca e fomos jantar no centro. Valence é uma cidade bonita que vale a pena conhecer. O camping era bem fraquinho, sem internet, sem cuidado.


Campo de lavanda no trajeto para Valence

Dia 11 - de Valence para Tournon-sur-Rhône (55 km)



Valence é bela mas o camping era uma bosta e nem tinha wi-fi, nós tivemos que usar o wi-fi do Office de Tourisme.

Partimos de Valence com dia nublado e fomos conhecer as cidades de Alixan - bem pequena e que tem uma bela igreja antiga - e a cidade de Romans-sur-Isère, onde almoçamos. O trajeto até Romans, todo por estradinhas rurais asfaltadas, é cheio de plantações de frutas - abricós, cerejas, maçãs - que Eliane fazia questão de roubar. De Romans para Tain L'Hermitage, as plantações mudam completamente e só há a uva hermitage. Tain L'Hermitage fica na margem do rio Rhône. Em frente à Tain, fica a cidade de Tournon-sur-Rhône, que é maior e mais bonita. Em Tournon, ficamos em um camping bem legal na beirinha do rio Rhône.


Rio Rhône, Via Rhôna, dia nublado.

Dia 12 - de Tournon-sur-Rhône para Saint-Pierre de Boeuf (51 km)



Esse foi um dos mais belos trajetos dessa viagem. Saímos do camping em Tournon-sur-Rhône com um pouco de chuvisco e dia nublado. Atravessamos a ponte para Tain L'Hermitage e começamos uma longa subida por entre os vinhedos da Côte du Rhône. 

A subida é longa e suave e a paisagem é magnífica. São aproximadamente 11 km de subida. Depois, começamos uma longa descida até o rio Rhône novamente. A Via Rhôna faz esse desvio pois (ainda) não há caminho para ciclistas ao longo do Rhône nesse trecho. Encontramos o rio novamente na cidade de Saint-Vallier, onde almoçamos. De lá, a Via Rhôna é uma ciclovia independente das vias de automóvel, acompanhando o curso do rio por quilômetros, passando por belas pontes e cidades. Por fim, chegamos ao destino do dia, um camping em Saint-Pierre-de-Boeuf.


 Ciclistas saindo para um pedal. Nós iremos subir a montanha aí na frente.

Na chegada à Saint-Pierre-de-Boeuf.

Dia 13 - de Saint-Pierre de Boeuf para Vienne (27 km)



Conforme planejado, um trajeto curto de 26 km, mas cheio de belezas naturais, entre Saint-Pierre-de-Boeuf e a cidade de Vienne. Além do sempre belo rio Rhône, a ciclovia da Via Rhôna passa por dentro de uma área protegida, de matas, para reprodução e observação de pássaros, a Île du Beurre, um local veramente especial. Planejei uma pedalada curta por dois motivos. (1) Para conhecer melhor Vienne e (2) Para não chegar no final do dia em Lyon que é uma cidade muito grande. 


Île du Beurre, um local veramente especial

Dia 14 - de Vienne para Lyon (44 km)



Penso que é bom evitar entrar em cidades grandes no final de um dia de pedalada. Cidade grande é sempre complicada. 

Por isso, planejamos uma pedalada pequena, 44 km, saindo de Vienne e chegando a Lyon. Aproveitamos, ainda, que era o feriado de 14 de julho e as estradas que cruzamos estavam com pouco movimento. Daí, chegamos bem cedo à Lyon, por volta de uma hora da tarde, com sol forte. 

O roteiro indicado na Via Rhôna é bem legal até Givors, e depois pegamos umas rodovias onde às vezes há ciclofaixa, às vezes há ciclovias e às vezes compartilhamos com os automóveis. A entrada em Lyon é bem segura, mas demorada, passando por áreas industriais feias como sempre em cidades grandes. 

Por fim, a rota nos leva ao grande parque linear que se estende ao longo da margem esquerda do rio Rhône. É um imenso parque, muito bom, apenas para pedestres e bicicletas, com muita área verde. 

Chegamos ao centro, almoçamos, nos hospedamos em um hotel - Lyon não tem um camping perto do centro - e saímos de bicicleta pela cidade. Lyon é muito grande e há muito que ver, é melhor percorrê-la de bicicleta. Como era o feriado de 14 de julho, ficamos pelas ruas até tarde para ver os fogos de artifício.


Na chegada ao centro de Lyon

Dia 15 - Passear por Lyon

Dia de passear pela bela Lyon. 

Saímos de bicicleta e pedalamos pelo parque linear que acompanha o rio Rhône, chamado Les Berges du Rhône, e seguimos para o grande parque ao norte da cidade, chamado de Tête d'Or. Este parque é imenso com lago e zoológico. 

Depois, fomos até a Confluência, o local onde os rios Saône e Rhône se encontram. O local está ainda passando por uma grande transformação e reurbanização, e o Museu da Confluência ainda está em construção. 

Depois, caminhamos muito pelas ruas da Vieux Lyon, procurando e descobrindo as traboules. Traboules são passagens secretas entre as ruas medievais. É possível visitar algumas delas, mas há que procurar pois as entradinhas são bem discretas.


A Confluence - onde os rios Saône (à minha direita) e Rhône (à minha esquerda) se encontram

Dia 16 - de Lyon para Thoissey (66 km)



Depois de um dia de passeios em Lyon, partimos para o norte acompanhando, desta vez, o rio Saône, ou seja, deixamos de acompanhar o rio Rhône e a Via Rhôna, e passamos a acompanhar o Saône.

O trajeto de 66 km de Lyon até a cidade Thoissey, pela margem do Saône, é muito bom e com belas paisagens. Pelo que vimos, o Saône é o rio dos cisnes. Há muitos pelo rio e em grupos grandes de 20 e 40 aves.

No trajeto, há ciclofaixas, ciclovias e trilhas, até mesmo single tracks. O Saône parece ser um rio mais calmo (ou controlado) que o Rhône - em relação à inundações - e suas margens são mais habitadas e utilizadas, com praias, campings e restaurantes.


Nós optamos por ficar no camping de Thoissey porque uma etapa do Tour de France - no dia seguinte - iria passar por lá.


Pela margem do rio Saône em direção à Thoissey

Dia 17 - Tour de France e de Thoissey para Mâcon (28 km)



Foi um dia especial. 


Depois do café, fomos para o centro de Thoissey esperar, juntamente com a população local, a passagem do Tour de France. Na entrada da ponte sobre o rio Saone e na estrada que sai de Thoissey para a ponte, já muita gente esperando os ciclistas com cartazes, roupas das equipes, bonés. 

Nós fomos cedo para o centro, estudando um lugar melhor para ver os ciclistas. Se vocês escolhe um retão, eles irão passar a jato. Nós ficamos na pracinha do centro da cidade, onde havia uma curva de 90 graus para entrar e uma outra curva de 90 graus para sair, pois ali eles iriam diminuir a velocidade (ainda assim, eles passaram a jato!). 

Ficamos lá pelo centro, bebendo umas cervejas, comendo qualquer coisa, olhando os cartazes que as crianças da escola municipal fizeram. Primeiramente - e na hora marcada - passa a caravana do Tour. 

São os carros dos patrocinadores que passam distribuindo brindes, sucos, bonés, chaveiros, camisas, canetas. Os carros passam jogando os brindes e a gente, e o povo, pulando para agarrar essas coisinhas. Ao final da caravana, passa um enorme carro de limpeza da pista. 

Cerca de uma hora depois da caravana, passam os competidores. Primeiro, o pessoal da fuga, cinco ou seis ciclistas e depois o pelotão. É emocionante e todos aplaudimos os ciclistas. São muitos, claro, mas a passagem é bem rápida, apesar das curvas. 

Depois disso, quase no meio da tarde, decidimos pedalar um pouco, apenas até a próxima cidade, cerca de 30 km, para adiantar a viagem. 

O trajeto de Thoissey até Mâcon, pela margem do rio Saone, é difícil. As estradinhas não são boas, cheias de pedras, e há mesmo um trecho curto impraticável, cerca de 1 km, pois passaram tratores e a lama havia endurecido. Chegamos à Mâcon, tomamos uma cerveja portuguesa na margem do rio e fomos para o camping. Deixamos para conhecer a cidade no dia seguinte.


Passagem do Tour de France pela pequena Thoissey.

Um trecho difícil do trajeto para Mâcon.

Dia 18 - de Mâcon para Chalon-sur-Saône (88 km)



Um dia muito bom de pedalada. Saímos do camping com as bikes carregadas e passeamos pelo centro de Mâcon, que tem uma catedral belíssima. 

Depois, seguimos na direção do Aerodrome, onde pegamos o início de uma excelente Voie Verte. Essa via verde de cicloturismo tem cerca de 80 km e foi construída em cima do leito de uma antiga linha ferroviária. 

A gente não esperava uma paisagem tão bonita em torno dessa via verde, foi surpreendente até. Além dos campos e plantações da uva Maconnais, alguns chateaux, uma bela surpresa: antes de chegar na cidade de Cluny, o aviso de que havia um túnel à nossa frente. 

O Tunnel de Bois Claire é impressionante. Deve ser uns 2 km por dentro de uma montanha, o ar fica muito frio dentro do túnel - que é todo iluminado em uma cor amarelada - e a água escorre do teto em diversos trechos. É úmido e frio. Há diversos pontos com iluminação para mostrar pedras e formações rochosas especiais, algo parecendo quartzo. 

Depois da travessia do túnel, logo chegamos à Cluny. A cidadezinha é bela e teve uma das maiores abadias da Europa, uma construção maior que São Pedro de Roma e que abrigava mais de mil monges. Hoje resta parte da Abadia de Cluny, algumas torres, alguns arcos e bases de colunas, que dão a dimensão da enormidade que havia. 

Almoçamos em Cluny e seguimos novamente a Voie Verte. O planejado era parar em algum dos camping que margeiam a via verde, lá pelos 60 km percorridos, mas a equipe estava num ritmo forte e quando passamos os 60km, a equipe pediu para continuar até a cidade de Chalon-sur-Saône. Como os dias escurecem lá pelas dez da noite, não havia problema. Chegamos em Chalon lá pelas oito da noite, armamos nossa tenda no camping e jantamos no centro histórico. Um pedal magnífico de quase 90 km.


Na Voie Verte que leva à Cluny.

Passagem pelo Tunnel de Bois Claire.

Dia 19 - de Chalon-sur-Saône para Beaune (56 km)



O trajeto desse dia teve duas partes: na primeira, seguimos o Canal du Centre e na segunda parte, seguimos uma rota dos vinhos da Bourgogne.

Saímos do camping com as bike já carregadas e passeamos pelo centro histórico de Chalon-sur-Saône. Depois, seguimos até o início da Voie Verte que acompanha o Canal du Centre. 

Esta região, a Bourgogne, tem vários canais com vias verdes para o cicloturismo. O Canal du Centre, além de uma pedalada tranquila em terreno plano, garante belas paisagens. Paramos para almoçar na cidade de Chagny, depois seguimos para a cidade de Santenay, onde deixamos o Canal para seguir a rota dos grandes vinhos da Bourgogne. 

Essa rota dos vinhos é um pouco mais difícil que o Canal pois passa por uma região de colinas. As uvas dos vinhedos famosos se espalham por essas colinas. O dia estava muito quente, o que dificultava um pouco o trajeto de subidas e descidas.

Em Santenay, uma pequena parada para conhecer o Chateau de Santenay, que tem as telhas coloridas, uma marca da arquitetura medieval da Bourgogne. Passamos por várias cidadezinhas e vários domaine de vinhos, e muitas e muitas caves de degustação. Muitos cicloturistas também fazendo essa rota. 

Chegamos cedo à Beaune, trajeto de 56 km, e depois de nos instalarmos no camping, visitamos o centro histórico. Beaune é uma cidade cercada de muralhas, bem pequena, e que tem como grande atração o Hôtel-Dieu. 

Como a visitação ao Hôtel-Dieu já estava encerrada, decidimos passar o dia seguinte em Beaune, para visitar o prédio com bastante tempo e calma. 


Pelas ruas da pequena Santenay.

Dia 20 - o Hôtel-Dieu de Beaune

Ele merece. O Hôtel-Dieu de Beaune é um dos mais belos e bem conservados edifícios medievais. Ele foi construído de 1443 a 1452, por ordem de Nicolas Rolin e sua esposa Guigone de Salins, com o objetivo de ser um hospital para os pobres. Nicolas gastou grande parte de sua fortuna nessa obra, mas também obteve doações dos duques da Bourgogne e de outros mecenas. 

O prédio atendia os pobres, sem precisar que pagassem, e havia também um espaço para atendimento aos ricos, que pagavam. O Hôtel-Dieu é uma obra prima. Os desenhos do projeto, da época, mostram já a riqueza de detalhes. A grande sala de atendimento aos pacientes pobres é magnífica, com um belíssimo teto em madeira, sustentado por vigas enormes de madeira trabalhada e pintada. Na sala de atendimento, há uma capela que se abria aos domingos para que os pacientes graves pudessem assistir a missa dos seus leitos.

Só visitando e lendo para entender a grandiosidade e beleza do prédio. Nas paredes da capela, Nicolas mandou gravar sua inicial entrelaçada com a de Guigone e a inscrição "Seule" e uma estrela desenhada, significando que Guigone foi sua única amada, sua única estrela.


Para completar, o Hôtel-Dieu de Beaune possui um belíssimo políptico de Rogier Van der Weyden retratando o juízo final, uma obra inesquecível.


Hôtel-Dieu de Beaune

Dia 21 - de Beaune para Dijon (48 km)



O dia estava nublado e com chuviscos. A região que fica entre Beaune e Dijon - conhecida como Côte d'Or - é totalmente dedicada a produzir os melhores vinhos da Bourgogne. Todas as pequenas vilas produzem algum vinho famoso.

O trajeto se faz por estradinhas rurais asfaltadas com pouquíssimo movimento de automóveis. Muitos cicloturistas fazendo esse percurso. Lá pelo meio do trajeto, a chuva ficou mais forte. Foi quando paramos para almoçar em Nuits-Saint-Georges. Pouco depois de sentarmos e de fazer o pedido, chegou um outro casal de cicloturistas para almoçar também. 

Nós saímos pouco antes deles. Entramos em Dijon acompanhando um dos canais e logo encontramos o camping - que fica junto a um parque. A gente estava armando a barraca quando o mesmo casal chegou. 

Mais tarde, passeamos por Dijon de bicicleta, jantamos e voltamos para o camping.


A caminho de Dijon, em dia nublado.

Dia 22 - Dijon

Dedicamos esse dia a conhecer a cidade, de bicicleta, claro. Depois do almoço, descansamos um pouco na barraca. No final da tarde, voltamos a passear pela cidade e jantamos.


Em Dijon.

Dia 23 - Trem de Dijon para Paris

Arrumamos toda a bagagem e a barraca nas bicicletas e fomos para a estação de trem da cidade. Pegamos um TGV, trem de grande velocidade para Paris. Viajamos no vagão próprio para transporte de ciclistas com suas bicicletas.


Bicicletas no vagão de ciclistas do TGV Dijon - Paris.

Quando chegamos à Paris e saímos da Gare de Lyon, sentimos o impacto da cidade grande. Gente apressada para todo lado, infinidade de carros e de barulhos. Depois de tantos dias pedalando pelo campo, por cidadezinhas e vilas rurais, a metrópole nos assustou.

Empurramos as bicicletas sem pedalar para sair daquela muvuca em torno da estação. Logo pegamos uma ciclovia que nos conduziu diretamente até a região da Place de la Republique. Chegamos ao hotel, deixamos as bicicletas presas no bicicletário bem na frente do hotel e subimos com as bagagens.

Mais tarde, pedalamos até o prédio onde mora a irmã de Eliane. Nossas bicicletas ficaram guardadas lá pois era mais seguro, claro, que deixá-las na rua, na frente do hotel.

Passamos dois ou três dias revendo Paris, batendo perna pela cidade. Em uma loja de bicicletas, conseguimos caixas de papelão para embalar as bichinhas. No prédio da irmã de Eliane, fizemos as embalagens. Desmontei as bicicletas ao máximo para poder fazer o menor pacote possível.

No dia de voltar, chamamos um táxi do tipo van e levamos nossos grandes pacotes para o aeroporto. A volta foi tranquila e as bicicletas chegaram sem problemas.


Piquenique no Sena, à bientôt Paris.

Um comentário:

  1. Bonjour. Grâce à Google translate j'ai pu voir vos récits de voyage à vélo. C'est très intéressant. J'habite à Montpellier et c'est dommage que je découvre votre blog si tard car je vous aurais accueilli avec plaisir!

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