Bordeaux - Montpellier


Onde: França - de Bordeaux à Montpellier

Quando: setembro/2013

Quilometragem: 700 km

A equipe:

Paulo Rafael - Dahon Speed D7
Eliane (Bagaceira) - Caloi Urbe

A partir de Toulouse, tivemos a companhia de:

Jorge Waquim - Dahon Speed D7
Patrícia Gonçalves - Brompton

Resumo:

Eu, Paulo Rafael, e minha esposa Eliane - também conhecida pelos amigos ciclistas como Bagaceira - viajamos com bicicletas dobráveis de Bordeaux para Montpellier. Pousamos no aeroporto de Bordeaux e de lá já saímos pedalando para o centro da cidade. Nos dias seguintes, pedalamos acompanhando o Canal de Garonne até Toulouse, depois acompanhamos o Canal du Midi até o seu final, perto de Sète. Enfim, de Sète seguimos para Montpellier. De Montpellier, pegamos o trem para o aeroporto de Marseille, de onde voltamos para o Brasil.

A minha bicicleta foi uma Dahon Speed D7, a de Bagaceira foi uma Caloi Urbe. No trajeto, tivemos dois pneus furados na Urbe, e um pneu furado e um raio quebrado na Dahon, tudo devidamente consertado.

No meio do roteiro, em Toulouse - onde os dois canais se encontram - nossos amigos Jorge e Patrícia se juntaram à viagem, e nos acompanharam na viagem pelo Canal du Midi. Jorge pedalou em uma Dahon Speed D7 também, e Patrícia em uma Brompton.

A viagem foi tranquila e segura, quase toda pedalando pela margem dos dois canais.

Relato completo da cicloviagem dia a dia:

1º dia - Do Aeroporto de Bordeaux ao centro da cidade (12 km).


Saímos de Recife para o Aeroporto de Bordeaux - que não fica em Bordeaux, fica em uma cidade vizinha, Merignac. Longa viagem de avião com conexão em Lisboa. Bicicletas dobráveis embaladas e despachadas em Recife sem nenhum problema. Quando chegamos ao avião que seguiria para Bordeaux, vimos as duas já no compartimento de carga. Pousamos às seis e dez da tarde. Escurecia apenas depois das oito e tantas da noite. Céu nublado, temperatura de dezoito graus, de acordo com o piloto do avião. Pegamos as bicicletas e fomos desembalar junto a uma lixeira fora do aeroporto. Tiramos plásticos e papelão, desdobramos, enchemos pneus, regulamos alturas de selins e guidãos. Colocamos os alforges e a mochila. Tudo pronto. Trajeto de doze quilômetros e pouco, quase todo por ciclovia, mas muitos trechos compartilhados com os veículos. 

Como sempre - aqui na Europa - bastante respeito dos motoristas para com as bicicletas. Chegamos ao hotel por volta das oito da noite. Entramos no hall empurrando as bicicletas e estacionamos na frente da recepção. Reserva do quarto conferida, a moça da recepção nos indicou onde poderíamos guardar as bicicletas, um compartimento junto à recepção. Jantar e dormir.

Foto do dia: saindo do Aeroporto de Bordeaux

2º dia - Pedal por Bordeaux

Dia para conhecer a cidade de Bordeaux, antes de sairmos em cicloviagem pelo sudoeste e sul da França. Depois do café da manhã, pegamos as bicicletas e pedalamos por todo o centro histórico, pelos diversos cais, praças e igrejas da cidade. Almoçamos em um restaurante do cais, depois fomos até a loja Decathlon comprar algumas coisas de bicicleta. Voltamos pelos cais e passeamos por diversas ruas do centro histórico. Não levei gps mas calculo que pedalamos uns vinte quilômetros.


Foto do dia: pedal no espelho d'água - Bordeaux

3º dia - De Bordeaux para Langon (57 km)



Pedalamos de Bordeaux até a cidade de Langon. Nosso trajeto foi de 57 km, com velocidade média de 13 km/h. 

Saímos da cidade com céu azul e sol forte, pedalando por uma ciclovia que acompanha a rodovia na margem direita do rio Garonne. Depois da cidade de Latresne, saímos dessa ciclovia e pedalamos por estradas locais de pouco movimento. 

Mais tarde, quando se aproximava a hora do almoço por aqui, descemos até a cidade de Langoiran. Dois rapazes viram que a gente procurava um restaurante e indicaram que havia um bom logo mais à direita, na margem do rio Garonne. Fomos para lá, Brasserie St. Martin, excelente comida, vinho bordeaux e sobremesa. De bucho cheio, seguimos viagem. 

Mais tarde, chegamos à Cadillac, a melhor cidade do dia. Cadillac é uma cidade bastide. As bastides são cidades-fortaleza construídas no sudoeste da França no século XIII com o objetivo de dominar a região. Cadillac é uma bela cidade, foi fundada em 1280 por Eduardo I da Inglaterra para melhorar a defesa na região de Bordeaux. 

Foi possível visitar o Chateau de Cadillac, duas portas da cidade, remanescentes da muralha, a Porta do Mar e a Porta do Relógio, e a Igreja de St. Martin. Depois que saímos de lá, em breve chegamos à Langon, nosso destino do dia. Chegamos ao hotel, guardamos as bicicletas, banho, lavar roupa e sair para passear por Langon e jantar no restaurante La Table Bio, com um vinho bergerac.

Foto do dia: entre vinhedos

4º dia - De Langon para Tonneins (63 km)


Saímos de Langon com destino a Tonneins. Logo passamos pela cidade bastide de Saint Macaire, medieval, muito bonita. Havia uma forte neblina, mas depois o dia ficou azul. 

Na cidade de Castets-en-Dorthe, começamos a pedalar pela ciclo-rota que acompanha o Canal de Garonne - um canal lateral ao rio Garonne. A ciclovia é toda asfaltada e a paisagem bela. Ao longo do trajeto, entramos em algumas cidades para conhecer, como Hure e Meulhan sur Garonne, onde almoçamos. Saímos da ciclo-rota para alcançar Tonneins, a 5 km do Canal, e chegamos ao nosso hotel. Lavamos as roupas e saímos de bicicleta para jantar.

Seguindo o Canal de Garonne.

5º dia - De Tonneins para Agen (64 km)


Fizemos o percurso de 64 km entre Tonneins e Agen. Saímos de Tonneins após o café da manhã, céu azul, sol forte. Seguimos por estradas rurais por seis quilômetros - com muitas macieiras carregadas - até voltar ao Canal de Garonne. 

Então, seguimos pela ciclovia do Canal, cercada de plátanos e recheada de pontes, eclusas e barcos. Muitos esquilos e pássaros na vizinhança do canal. Logo chegamos a mais uma cidade bastide, Damazan, localizada junto ao canal. Subimos as ladeiras da bastide para conhecê-la de perto. As bastides, cidades fortificadas, apresentam uma configuração semelhante: muralhas ao redor, portas, uma ou mais igrejas góticas, um mercado central com arcadas e casas com arcadas em volta do mercado central. Temos visto também muitas casas em enxaimel dentro das bastides. Damazan é muito bonita, vale a pena visitá-la. Descemos de volta ao canal e seguimos. 

O Canal de Garonne tem vários portos para os barcos que estão fazendo o trajeto. São lugares em que o canal se alarga e onde há sempre algum tipo de estrutura, água, banheiros e restaurante. Quando chegamos ao porto de Buzet-sur-Baise, mais de meio-dia, vimos um restaurante pequeno e agradável chamado Au Bord de l'Eau (na beira da água). Paramos para almoçar. Já estava lá um outro casal de cicloturistas. Cruzamos com muitos cicloturistas pelo canal, tanto solitários quanto em duplas. Pedimos o menu do dia, escrito a giz. Uma salada, um filé de linguado e um vinho da região de Buzet. Este pequeno restaurante tem mesas ao ar livre na beira do canal, onde a sombra é criada por videiras - que estavam carregadas de uvas doces. 

Depois do almoço, voltamos a seguir a ciclovia do canal. Logo adiante - e com o sol cada vez mais forte - saímos do canal para conhecer uma outra cidade bastide, Vianne, que fica a cinco quilômetros de distância. Visitamos a cidade que tem um planta quadrada com quatro portas bem conservadas, parte das muralhas e algumas torres. Voltamos ao canal. Nessa tarde, passamos por um trecho do canal que não tem os plátanos. Neste trecho, sem a proteção dessas árvores, enfrentamos um forte vento contra por alguns quilômetros. Adiante, os plátanos reaparecem e o vento desaparece. Chegamos a uma bastide bem pequena, e pertinho do canal, Serignac-sur-Garonne. Entramos, circulamos e voltamos ao canal. Depois de mais alguns quilômetros, nos aproximamos de nosso destino do dia, a cidade de Agen. 

Em Agen, o Canal de Garonne passa por cima do Rio Garonne - a uma enorme altura - por meio de uma ponte-canal. Há outras pontes-canal no percurso e essa é uma das maiores. É uma obra de engenharia impressionante pois além de o canal passar por cima do rio, ele passa por cima de uma grande rodovia. Eu imaginei um motorista vindo pela rodovia e vendo um barco navegando por cima da estrada, na ponte-canal. Logo depois de entrarmos em Agen pela ponte-canal, saímos do canal e entramos no centro histórico da cidade onde fica o nosso hotel. Banho, lavamos roupa, saímos para jantar e ver a cidade.

Foto do dia: Canal de Garonne

6º dia - De Agen para Moissac (52 km)


A rotina de uma cicloviagem: acordar, café da manhã, bicicletas e bagagens. pedalar, pedalar, almoçar (se encontrar lugar), pedalar, pedalar, chegar no destino, hotel, banho, lavar roupas, sair para conhecer a cidade e jantar.

O sol está (quase) de rachar nesse começo de outono. Logo de manhã, antes de sair de Agen, pedalamos por baixo da ponte-canal para poder vê-la de longe, pois ontem pedalamos por cima dela. Passamos por baixo e subimos para a ponte-canal e retomamos a ciclovia do Canal de Garonne. 

Observe-se que esta ciclovia juntamente com a próxima que vamos encontrar a partir de Toulouse (a ciclo-rota do Canal du Midi), as duas juntas são chamadas de Veloroute Entre Deux Mers (entre dois mares) pois esses dois canais fazem a ligação fluvial (e ciclística) entre o Atlântico e o Mediterrâneo.

O trajeto de hoje foi muito agradável, na ciclo-rota, com pequenas cidades e pequenos restaurantes muito bonitos, além dos barcos de turistas que passam constantemente.

Passamos em um restaurante em uma eclusa, local tão aprazível que paramos apenas para um café e uma taça de vinho. Por acaso, havia três cicloturistas ingleses, entre eles uma mulher, que também estavam lá curtindo um café e o local. Este restaurante chama-se A Galinha De Bicicleta. A mulher cicloturista nos perguntou se a dobrável era boa para viagens, se era estável, e terminou dando uma volta na Caloi Urbe de Bagaceira, para experimentar.

Depois da parada na Galinha, seguimos pelo canal e muito adiante passamos pela enorme usina nuclear de Golfech, dizem que é a mais alta da Europa com 178 metros de altura. É uma visão impressionante que acompanha os passantes por muitos quilômetros.

Após Golfech, chegamos à cidade bastide de Valence d'Agen. Entramos para conhecer e vimos uma bela cidade, bastante movimentada. Encontramos um bom restaurante na praça do antigo mercado, junto da igreja gótica, e almoçamos lá.

Depois do almoço, sol fortíssimo, voltamos para o canal. Mais adiante, o primeiro pneu furado da viagem. Troquei a câmara e seguimos. Logo chegamos a Moissac, com 52 km pedalados, pois hoje o trajeto previsto era menor, para não exigir demais da equipe.

Chegamos ao hotel pouco antes das cinco da tarde, guardamos as bicis na garagem, banho, lavar roupas e sair - com muito sol ainda - para conhecer Moissac. A cidade está às margens do rio Tarn e é muito bonita. Moissac faz parte do caminho de Santiago de Compostela e tem uma igreja muito bela e famosa, a Abadia de St. Pierre. No meu parco entendimento, uma das mais belas igrejas que já vi - considerando que prefiro as igrejas românicas do que as góticas. St. Pierre é uma igreja românica muito bem conservada e é Patrimônio da Humanidade. Além da beleza e da força do edifício, encontra-se na porta sul um belo tímpano esculpido com uma das visões de João relatadas no Apocalipse. Dentro da igreja, há diversas e belas esculturas do século XII e XV. Depois de circular pelas ruas de Moissac e pela margem do Tarn, voltamos para a praça junto à igreja, onde há alguns cafés e bistrôs, e jantamos por lá. Foi bom ver o dia indo embora, depois das oito da noite, e a iluminação das ruas e da igreja começar a aparecer. Fim de um excelente dia.


Na saída de Agen.

7º dia - De Moissac para Toulouse (74 km)




Hoje, 74 km. Amanhã é dia de descanso da equipe, usaremos apenas para conhecer Toulouse e na sexta-feira iniciamos o outro canal, o Canal du Midi. Hoje, a previsão era pedalar 64 km, mas com o entra e sai para conhecer cidades, fizemos 74 km "sem querer". Como escurece tarde nesse começo de outono, não ficamos preocupados com o anoitecer, dá para chegar sempre com dia claro, sol forte.

Saímos de Moissac pelo trajeto do Caminho de Santiago de Compostela, passando pela Abadia de St. Pierre, e vimos diversos caminhantes com suas mochilas e cajados no começo do dia. Retornamos ao Canal de Garonne. O dia amanheceu azul e um pouco mais frio que ontem, mas uma temperatura bastante agradável para pedalar. Logo chegamos a Castelsarrasin e entramos na cidade para conhecer a igreja principal, Église Saint-Sauveur. Demos umas voltas pela cidade, passamos pela praça principal onde fica a prefeitura.

Voltamos ao canal e por volta do meio-dia chegamos à cidade de Montech. Entramos para conhecer, circulamos pelas ruas medievais, e junto da prefeitura encontramos um pequeno restaurante com um interessante menu do dia (entrada + prato principal + sobremesa). A gente havia pensado em comer apenas uma salada, mas o menu do dia estava tão atraente que cedemos. Sentamos e fizemos os pedidos e logo o restaurante começou a encher com gente da cidade. Almoçamos e voltamos ao canal. 

Depois do meio-dia, aqui nesse outono, o sol está esquentando bastante - mas há um vento contra mais frio e constante. Então, de Montech em diante foi sempre muito sol e muito vento. Muitas pontes, eclusas, alguns moinhos que usam a água do canal. Entramos apenas em uma cidadezinha, Saint Jory, para comprar água.

Estávamos chegando ao fim do Canal de Garonne, entrando na cidade de Toulouse. 

Em qualquer das minhas cicloviagens, seja Vale Europeu, Caminho dos Diamantes e outras, é curioso notar que a gente vai ficando mais acostumado com cidades pequenas, onde se chega e se encontra logo a praça principal, a igreja, o comércio. E quando a gente volta a entrar em uma cidade grande, fica achando tudo estranho. Foi assim, hoje. Viemos de belas cidadezinhas calmas e de repente entramos em Toulouse que nos pareceu enorme e agitada demais. 

De qualquer modo, comparando Bordeaux e Toulouse, Bordeaux parece muito mais amigável, pedalável,mais bela e mais limpa.

Entramos em Toulouse pelo Canal de Garonne, passamos pelo ponto onde ele se encontra com o Canal du Midi e logo encontramos nosso hotel. Banho, lavar roupas e sair para jantar. Amanhã, descanso, e sexta iniciamos o Canal du Midi.


Perto de Toulouse.

8º dia - Descanso em Toulouse


Hoje, dia de descanso, apenas passeios a pé pela cidade, observando o geral e os detalhes. Hoje de tarde, chegaram nossos amigos Patrícia e Jorge - brasileiros de Paris - que irão fazer o Canal du Midi com a gente a partir de amanhã, em suas dobráveis. 

Dia de acordar um pouquinho mais tarde e bater perna pela cidade - que é muito bonita também - conhecendo as praças, boulevards, igrejas e pontes.


Em Toulouse.

9º dia - De Toulouse para Castelnaudary (66 km)




A equipe aumentou, agora somos quatro dobráveis: duas Dahon Speed, uma Caloi Urbe e uma Brompton. Como estávamos em hotéis diferentes em Toulouse, marcamos às nove e meia na frente do hotel de Jorge e Patrícia. De lá, saímos diretamente para o Canal du Midi e começamos o dia de pedal.

O Canal du Midi tem asfalto apenas nos primeiros 50 km. Depois disso, alguns trechos próximos de cidades são asfaltados, mas o resto é o piso natural, de terra, pedrinhas, algumas raízes de árvores. Uma outra grande diferença para o Canal de Garonne, é que há pouca ou nenhuma sinalização. O Canal de Garonne é todo sinalizado, tanto para indicar de que lado do canal é melhor de pedalar, quanto para indicar a saída para as cidades que são próximas ao canal.

Pedalamos com tranquilidade por 30 km - em asfalto - sempre com a beleza do canal, suas pontes e da vegetação. Entretanto, aos 30 de pedal, um ciclista a toda velocidade em sentido contrário colidiu com a bicicleta de Patrícia que vinha um pouco atrás. Pensamos que ele baixou a cabeça um momento e quando viu estava muito em cima, ele ainda freiou mas não evitou a batida. Aparentemente, eles bateram roda com roda. Ele cortou o nariz - ou no capacete de Pat ou na maçã do rosto dela, que ficou arranhada. Depois de todos em pé e mais calmos, continuamos a viagem sem maiores problemas. Observe-se que todo o tempo há placas avisando para ter prudência pois há crianças e pedestres usando as margens do Canal. Lá não é lugar para treinamento de velocidade.

Pouco depois, aos 33 km pedalados, entramos na cidade de Gardouch para almoçar. Na pesquisa do trajeto, vimos que havia restaurante na cidade. Encontramos o La Marotte. O menu do dia estava convidativo - e a gente que pensava em comer apenas uma salada, entramos na sequência de entrada + prato + sobremesa, com vinho certamente. Muito boa a comida do restaurante. De bucho cheio, voltamos ao Canal. Por volta do 50 km pedalados, a rota do canal deixa de ser asfaltada e fica no estado natural, terra e pedrisco e algumas raízes. Particularmente, acho que o caminho fica melhor assim, mais natural.

O Canal du Midi é alimentado de água por um outro canal que vem da Montanha Negra. Esse ponto de alimentação do canal é onde as águas se dividem, uma parte desce em direção a Toulouse e outra parte desce em direção ao Mediterrâneo. Esse lugar se chama Seuil de Naurouze e a divisão das águas em duas direções se chama Partage des Eaux. Passeamos (e nos perdemos, um pouco) nesse lugar para ver a alimentação do canal, e depois voltamos ao caminho certo.

Durante todo o dia, o vento contra esteve forte ou fortíssimo, mas isso não atrapalhou a pedalada - até mesmo porque não estamos competindo e seguimos com calma. Depois do meio-dia, o sol ficou bem mais quente.

Faltando 12 km para o objetivo do dia, encontramos um bar na beira do canal e paramos para cervejas e café.

Quando nos aproximamos de Castelnaudary, a rota volta a ser asfaltada. Entramos na cidade, encontramos nosso hotel no centro. Banho, lavar roupas, sair para jantar. No final, mesmo com colisão foi um excelente dia.


A equipe aumentou.

10º dia - De Castelnaudary para Carcassonne (49 km)




Dia especial de pedalada. Era para ser um dia mais fácil, projetado para pedalar entre 40 e 45 km, sem problemas, pois queríamos chegar cedo para conhecer melhor a famosa Carcassonne, possivelmente uma das mais belas cidades do trajeto. Entretanto...

Entretanto, o dia amanheceu nublado e com vento contra muito forte e tivemos alguns contratempos. Saímos do hotel e pedalamos um pouco por dentro de Castelnaudary, conhecendo por fora algumas das antigas igrejas. Descemos para o canal e continuamos o trajeto Canal du Midi. O vento forte não prejudicava a pedalada, mas era bastante impressionante. Quando chegamos à Eclusa de Bram, ploc, um raio da roda traseira da minha bicicleta quebrou. Ora, ora, a roda da Dahon é bastante forte, mas a bichinha já viajou tanto que o estresse do material deve ter chegado ao limite. Ouvi o ploc e senti que o freio estava pegando. Descemos até o restaurante que existe nessa eclusa - que era exatamente onde eu projetara almoçar - deixei a bicicleta pra lá e fomos ver a comida. O prato do dia - sempre o mais barato e mais fresco - era sardinhas fritas. Pedimos as sardinhas, deliciosas, vinho da região, cestinha de pães (sempre vem) e, ao final, café. 

Depois de resolvido o bucho, resolver a bicicleta. Soltei o freio traseiro, retirei a roda e retirei o pára-lama, e recoloquei a roda. Troquei os meus alforges - mais pesados - com os alforges de Bagaceira - mais leves. Consultamos o guia do Canal e lá dizia que havia uma Decathlon - essa loja de esportes simplesmente dez - em Carcassonne - e fechava às 19e30. Decidimos não entrar em uma ou outra cidade ao longo do restante do trajeto. Seguimos para Carcassonne. Vento forte, vento forte, o tempo todo, mas não fazia frio. Um pouco de chuvisco às vezes, uma chuva que não molhava.

Eu busquei pilotar com cuidado, sem forçar a bicicleta em marchas mais pesadas, sem acelerar de repente e tentando evitar as inúmeras raízes e tocos e alguns buracos desse trecho do Canal.

A equipe progrediu bem durante a tarde e logo entramos nos subúrbios de Carcassonne. Jorge fez a navegação até a Decathlon com o gps dele - a gente não sabia onde ela ficava - eu auxiliei com o meu e fomos acertando as ruas.

Chegamos na Decathlon - que é quase fora da cidade - e essa loja sempre tem uma oficina de manutenção de bicicletas. Mostrei ao mecânico meu raio quebrado - misturando francês e inglês - e ele logo retirou a roda e analisou o problema. Mostrou o valor do raio e da mão de obra no computador. Raio, 55 centavos, troca do raio e alinhamento da roda, 17 euros. Perguntou se estava ok para mim, ok, me mandou pagar no caixa e se ocupou da roda. Paguei e poucos minutos depois recolocamos a bagageiro, roda, com tudo ajustado. Ainda, de grátis, ele ajustou o câmbio de Jorge que estava com um pequeno problema.

Daí, voltamos pelo caminho traçado no gps para chegar na loja, e seguimos para o centro de Carcassone, chamado também de cidade baixa (ville baisse), pois a parte medieval e mais famosa fica no alto e se chama La Cité. Chegamos ao centro, e cada dupla foi para um hotel. Banho quente, lavar roupas, e nos encontramos para um passeio noturno pela Cité medieval de Carcassonne e para jantar. Excelente dia.


Eclusa do Canal du Midi.

11º dia - De Carcassonne para Olonzac (46 km)




O dia amanheceu azul e ensolarado. Depois do café, saímos a pé para ver La Cité, a cidade medieval e fortificada de Carcassonne. É um lugar impressionante. Andamos em torno das muralhas e por dentro, pelas vielas medievais. Por conta da visita a La Cité, programei apenas quarenta e poucos km para hoje.

Voltamos ao hotel, bikes e bagagem, e saímos de volta para o nosso Canal du Midi. Depois de tantos dias, a gente fica com saudade quando está longe do canal. Como saímos mais tarde, ao passar em Trèbes já era hora do almoço e havia muitos restaurantes na beira da água. Escolhemos um e pedimos o menu du jour (entrada + prato + sobremesa) e vinho, claro. 

De bucho cheio, voltamos para o canal. Nesse trajeto de hoje, o piso variou bastante: asfalto, terra, pedrisco, raízes. A paisagem também muda bastante, agora com alguns morros e serras ao lado do canal e vegetação variada. 

Por fim, chegamos à cidade de Homps, que fica junto ao canal, e paramos para algumas cervejas, final de tarde, sol forte. Logo seguimos para Olonzac, nosso destino de hoje, que fica a dois quilômetros de distância do canal. Encontramos nosso hotel que é uma casa de mais de trezentos anos com um belíssimo quintal. O quintal é tão convidativo, com mesas, cadeiras, árvores, lâmpadas coloridas, que decidimos jantar lá mesmo (com mais vinho, certamente).


Hora de se refrescar.

12º dia - De Olonzac para Béziers (67 km)




Depois do café da manhã, antes de sair, fui verificar os pneus das bicicletas e havia um deles furado, troquei a câmara. Saímos da bela pousada Eloi Merle, em Olonzac, e seguimos para o Canal du Midi.
 
No trajeto de hoje, há vários desvios do roteiro do canal pois está acontecendo o corte de alguns plátanos. O Canal du Midi tem 42 mil plátanos em suas margens, para diminuir a evaporação das águas e fortalecer as margens. Esses plátanos tem entre 80 e 200 anos de idade. Entretanto, cerca de 10 mil desses plátanos estão sendo atingidos por uma doença chamada "cancro colorido", causada por um cogumelo microscópico. Aparentemente, não há cura para a doença e as árvores atingidas terminam por morrer em um prazo de 5 a 20 anos. Há estudos que podem vir a encontrar uma vacina para as plantas mas, no momento, A VNF (Vias Navegáveis da França) - que controla o canal - está realizando o corte das árvores mortas. É triste e o quadro é desolador em algumas áreas, parece uma devastação. É claro que também já existe o projeto de replantio de outras árvores que possam atuar da mesma forma que os plátanos.

Pois bem, seguimos o canal fazendo os desvios indicados pela sinalização - quando há trechos em que as moto-serras estão trabalhando.

O piso do trajeto de hoje varia enormemente, desde trechos asfaltados, até single tracks cheios de raízes, e pistas de terra e pedrisco. Muita pedra, raiz, pedrisco. Eu e Bagaceira preferimos assim, é mais divertido do que o Canal de Garonne.

Logo, com mais de 22 km pedalados, chegamos a Le Somail, um porto fluvial do Midi muito bonito, ponte de pedra, igreja, livraria de livros antigos com mais de 50 mil volumes, barcos ancorados claro, alguns restaurantes e um barco que funciona como mercado flutuante.

Paramos nesse belo local para almoçar ao ar livre, em mesas colocadas à sombra de grandes árvores, na beira do canal. Um local único. Bom, também, a França é o país da beleza, em que tudo é cuidado com gosto, de forma especial, sempre com detalhes, cores, delicadeza. E no interior do país - essa França Profunda, penso que podemos chamar assim - onde estamos, é mais do que nas grandes cidades.

Hoje paramos com essa gula de pedir o menu du jour e nos limitamos ao plat du jour, o prato do dia. Os quatro pedimos o prato do dia, e muito vinho da região.

Depois de Le Somail, pedalamos mais cerca de belos 20 km, e lá pelos quarenta e tantos km pedalados chegamos à cidade de Capestang, que possui uma grande e antiga igreja - do século XIII - a Igreja de Saint-Étienne. Vimos a igreja de longe e entramos na cidade. A praça junto à igreja, com cafés, nos convidou a tomar cerveja. Dia quente e céu azul.


Voltamos ao canal e seguimos em direção a Béziers, nosso destino do dia. Como o objetivo é o caminho e não o destino, usamos muito do nosso tempo no caminho e chegamos tarde, já escurecendo, à Béziers. A cidade é muito grande e assusta quem está vindo de cidadezinhas mínimas. Mas graças à navegação de Jorge, encontramos o trajeto para o hotel. Apenas deixamos as bikes e as bagagens no hotel e fomos para a rua para jantar. Depois, banho e lavar roupas e dormir.


Vinhos do Languedoc em Le Somail.

13º dia - De Béziers para Sète (69 km)



Grande dia: fomos ao ponto final do Canal du Midi - quando ele desemboca na Lagoa de Thau e depois chegamos ao Mar Mediterrâneo na cidade de Séte - depois de ter saído dias atrás de Bordeaux, cujos rios desaguam no Oceano Atlântico. Portanto, cumprimos, de bicicleta, a antiga função do Canal du Midi e do Canal de Garonne - imaginada por Pierre-Paul Riquet - de ligar o Mediterrâneo ao Atlântico. Este o motivo do nome dessa ciclo-rota: Entre Dois Mares. Amanhã temos um dia de descanso e na quinta voltamos a pedalar em direção a Montpellier. No nosso trajeto até agora, viajamos dentro da história do antigo território de Occitaine - um povo com língua e cultura próprias - e dentro do chamado País Cátaro - pois grande parte dessa região foi lar dos cátaros, cristãos que buscavam uma religião pura (cátaro é puro, em grego). Em vários lugares pelos quais passamos, encontramos o símbolo de Occitaine (uma cruz com 12 esferas nas pontas) e também várias referências aos cátaros. Só para ressaltar: Carcassonne e Béziers foram importantes fortalezas cátaras.

Bem, então, depois do café da manhã em Béziers, pedalamos um pouco pela cidade, e fomos conhecer a igreja de Santa Madalena e a imensa catedral fortaleza de Saint-Nazaire (século XIII). De lá, descemos da cidade alta em direção ao rio Orb, passamos pela Ponte Velha e chegamos a ponte-canal do Midi, na entrada cidade. Voltamos ao nosso Canal e seguimos sua ciclo-rota.

Hoje, grande variação de tipo de pisos e paisagens. Na ciclo-rota, pegamos asfalto, barro, trilhas muito estreitas cercadas de vegetação, áreas alagadas ao lado da estrada, semelhante a pântanos ou mangues, e áreas de preservação ambiental. Muito sol quente e céu azul.

Na hora aproximada de almoçar - os restaurantes só servem almoço entre 12h e 13e30, raramente até 14h - saímos do Canal em direção a pequena e bela cidade de Vias. No pequeno centro histórico da cidade há muitos restaurantes. Escolhemos um e almoçamos, com cerveja, vinho, sol e pão. Saímos pesados de lá, visitamos a igreja da cidade e voltamos para o canal.

Próxima cidade em que entramos foi Agde, às margens do rio Hérault. O trajeto é um pouco complicado em Agde, pois o Canal du Midi desemboca em uma margem do rio Hérault e continua mais adiante na outra margem. Entramos em Agde, demos uma pequena volta para ver a cidade, e seguimos pela margem do rio, um single track no meio da vegetação, até reencontrar o Midi.

Continuamos seguindo a rota do canal por trilhas estreitas no meio da vegetação, até o ponto em que o canal começa a entrar na Lagoa de Thau. Há diques de ambos os lados do canal, que conduzem a navegação até dentro da Lagoa. No ponto mais extremo do dique do Canal há um farol. Ali termina o famoso Canal du Midi - que seguimos completamente desde Toulouse. Chegamos nesse ponto com bastante alegria. Fotos e olhar a paisagem da lagoa. Água aparentemente muito limpa e fria.

Voltamos percorrendo todo o dique e pegamos a ciclovia - perfeita - que leva até a cidade de Séte, distante cerca de 17 km. Nesse ponto, já começamos a ver o Mediterrâneo no horizonte. Seguimos admirando a qualidade da ciclovia - totalmente independente dos automóveis - quando encontramos uma barreira do exército. Havia sido encontrada uma mina da segunda guerra mundial na praia e o exército estava desmontando a mina e procurando outras, e haviam bloqueado a praia e a ciclovia. Alguns ciclistas franceses estavam lá reclamando com os soldados que teríamos que ir para Séte pela rodovia e que não havia nem policiais nem o exército para nos ajudar no trajeto compartilhado com os automóveis.

Depois que fomos instruídos pelo soldado a voltar e seguir pela rodovia, e mais na frente entrar de volta para a ciclovia, pois só um trecho estava bloqueado, o soldado do exército francês falou com a gente em português. Ele era de Portugal. Seguimos pela rodovia que tem acostamento estreito por alguns quilômetros e logo voltamos para a ciclovia.

Chegamos a Séte sem mais problemas. A cidade tem suas casas na margem de canais que fazem a ligação do Mediterrâneo com a Lagoa de Thau, e é um porto pesqueiro. Encontramos os hotéis, jantamos e final do dia. Banho e lavar roupas. Amanhã, descanso e passeios em Séte, e quinta-feira seguimos para Montpellier.


Fim do Canal du Midi na Étang de Thau.

14º dia - Para conhecer Sète

Dia de descanso. Em viagens longas, penso que é necessário um dia mais suave no meio para a equipe poder acordar mais tarde, descansar a bunda, lavar roupas e bater perna sem compromisso. Hoje, apenas passeamos a pé por Sète. A cidade tem vários canais que ligam a Lagoa de Thau com o Mediterrâneo. Amanhã seguimos para Montpellier.


Vista de Séte.

15º dia - De Sète para Montpellier



Pedal relativamente curto - 50 km - mas intenso. Começamos a pedalada em Sète, cuidadosa e lentamente para sair do tráfego dessas cidades maiores. Para evitar as rodovias, fizemos um trajeto que acompanhou um outro canal - o Canal Rhône - Sète - que liga Sète ao rio Rhône.

O dique do canal é totalmente pedalável e o canal atravessa uma zona de lagunas, muito bem preservadas, com intensa vida aquática e de aves. Eu não sei identificar aves, mas pelo menos gaivotas e flamingos eu distingo, e esses vimos incontáveis.

O dia estava nublado e com vento forte vindo do mar, mas a paisagem é - na minha opinião - belíssima. Um pouco de desolação e a amplitude de estar pedalando em uma estreita faixa de terra, com água em todas as direções. Apenas como uma observação curiosa, o Canal Rhône-Sète foi recentemente modernizado, com recursos da União Européia, os trabalhos duraram 16 meses e custaram 6 milhões de euros.

Pouco antes da cidade de Palavas-les-flots, saímos do dique para conhecer uma inacreditável catedral que é praticamente uma ilha em meio àquelas lagunas, a Catedral de Maguelone. Ela fica em um pequeno monte no meio das lagunas e há indícios de que havia um templo romano antiquíssimo por lá. Como igreja, há vestígios do século VIII, e a catedral atual é do século XIII. O local é belo e não é mais usado como igreja, apenas como lugar de apresentações de música - canto gregoriano, música clássica. A propriedade, hoje em dia, produz vinhos, e compramos uma garrafa - que já esvaziamos no final do dia.

Depois da visita a Maguelone, seguimos e logo chegamos em Palavas, onde almoçamos - quase no finalzinho da hora limite de atendimento. De bucho cheio, seguimos por ciclovias até Montpellier. No centro histórico - que é todo apenas para pedestres, bicicletas e bondes - chegamos ao local da nossa hospedagem.


Perto de Palavas.

Montpellier - Hora de voltar

Um sábado de sol em Montpellier, último dia antes de voltar para o Brasil. Acompanhamos Jorge e Patrícia até a estação de trem - eles pegaram o trem de volta para Paris, onde moram. Depois passeamos pela cidade iluminada, as vielas medievais, o centro histórico que é usado apenas por pedestres, bicicletas e bondes. Almoçamos em um pequeno bistrô de uma pracinha, voltamos para o apartamento, juntamos os badulaques, montamos as bicicletas e fomos pedalando para a estação de trem. Pegamos o trem para o aeroporto de Marseille, descemos na estação Vitrolles-Aeroporto e pedalamos até o hotel que fica junto ao aeroporto. Começamos a embalar a bagagem para pegar o avião amanhã de manhã. Fim desta bela cicloviagem.

Vamos para estação de trem e depois o aeroporto.

Um comentário:

  1. Como exatamente vocês embalaram as bikes? Estou pensando em comprar uma no Canada, mas não posso gastar muito com mala específica.
    Grata,
    Marcia Lupi

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